Host families não respeitam regras do programa de Au Pair

"Au Pair, não escrava"
Fonte: The Local
Com a recente notícia da host family londrina que perdeu o recurso na condenação de 30 anos após torturar e assassinar sua au pair, Sophie Lionnet, em Setembro de 2017, diversas au pairs quebraram o silêncio sobre os abusos sofridos durante o intercâmbio. Em entrevista com diversas atuais e ex au pais, De Carona colheu depoimentos que comprovam a importância de se conversar claramente com as host families antes de dar match e embarcar para o novo país.

Os problemas mais comuns são as 45 horas de trabalho que não são respeitadas e as horas extras não serem pagas. Os horários de trabalho flexíveis também impedem que a au pair tenha um dia e meio de folga, como é obrigatório pelo regulamento do programa. Esses problemas são evidenciados quando um dos pais trabalha em casa, inibindo a liberdade da au pair durante o trabalho e diminuindo sua autoridade em relação às crianças. Mariana Nicodemos, ex-au pair em São Francisco, Califórnia, teve uma experiência não tão agradável pelo fato de ambos host parents ficarem em casa durante o dia enquanto ela trabalhava. As crianças, de 2 e 4 anos de idade, constantemente ignoravam a au pair e iam diretamente aos pais, que estavam trabalhando e não tinham disponibilidade para ficar com eles.
"Sua au pair se torna uma "irmã mais velha" para seu filho."
A forma como o programa é vendido pelas agências faz com que as au pairs pensem que serão parte da família, como uma "irmã mais velha" e por isso, são incentivadas a passar tempo com eles mesmo que não estejam no horário de trabalho. Por isso, é comum au pairs também ficarem responsáveis pelas crianças durante o horário de refeições e lazer.
"Lembro de um festival que eu estava de folga, nos encontramos no parque sem querer e o host pediu pra eu trocar a fralda do mais novo... fingi que não estava escutando e saí na hora!". - Mariana Nicodemos
Já Maíra Galvão passou por problemas mais sérios. Foi au pair em três famílias diferentes, e além de sempre trabalhar acima das 45 horas semanais, foi vítima de agressões verbais durante o período do intercâmbio. A primeira família, em Chicago, era composta por uma mãe solteira e o filho de 7 anos. A host mother humilhava a au pair constantemente, deixando anotações nas comidas para que Maíra não comesse, gritando com ela e a rebaixando por ser brasileira e vir de um país de terceiro mundo. Após o rematch, Maíra foi para Atlanta cuidar de 5 crianças em uma família de judeus. Além das diferenças culturais, a família começou a pagar a au pair com cheques sem fundos abaixo do valor estipulado pelo regulamento e sempre atrasavam os pagamentos. A host mother ora a tratava como filha, ora a humilhava e gritava com ela, até que Maíra foi expulsa de casa no meio da noite, sem ter aonde ir.

Embora o programa de au pair seja vendido como um intercâmbio de trabalho e estudo, Maíra não conseguiu estudar devido ao trabalho. "Não cheguei a estudar lá porque os horários não davam, já que a agenda era toda picada, e o valor da bolsa de estudos não dava para estudar. É claramente um programa sem regras claras, e ninguém segue as regras. Não é um programa de estudos e sim de trabalho, trabalho péssimo.". A forma como as agências americanas vendem o programa para as host families corrobora com essa realidade. As famílias não tem conhecimento que as au pairs pagam para estar lá, e acreditam estarem as resgatando de um país subdesenvolvido para proporcionar uma experiência de vida melhor. Acreditam que as au pairs devem agir como parte da família em todos os momentos, e se indignam quando elas preferem não trabalhar aos fins de semana, ajudar na limpeza pesada da casa e cozinhar para a família inteira.

No grupo de au pairs no Facebook, é comum denúncias de host families que não respeitam as regras do programa, e os posts servem como aviso para as meninas que ainda estão no processo de conversar com as famílias. Um arquivo que é constantemente atualizado com os sobrenomes das famílias "perigo", a cidade onde moram e a agência que fazem parte ajudam as au pairs a localizarem eventuais famílias que possam estar com seu application.

Julia Scariot, que está online para as famílias e aguardando o match, colheu depoimentos de algumas atuais e ex-au pairs postados no grupo. As au pairs contam que sofreram abusos diversos das host families, com regras absurdas de convivência e trabalho, e Julia fez um vídeo explicativo sobre o assunto em seu canal no Youtube, Easy Au Pair, onde pretende documentar todo o processo do seu intercâmbio.



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